domingo, 5 de dezembro de 2010

Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.

Fui fazer a luz do espetáculo Marat Sade, de Peter Weiss, no Teatro Escola Macunaíma. É a segunda peça que essa turma apresenta, são alunos bem novinhos a faixa etária media é de 16 anos. Achei uma escolha um tanto quanto ousada, pois é um texto bastante difícil. O texto retrata o Manicômio de Chareton próximo a Paris em 1789, onde os internos apresentam uma peça sobre os últimos dias de vida Jean-Paul Marat.
Nesse tipo de apresentação é difícil conter a ansiedade dos convidados dos alunos, em geral seus familiares; é briga de mãe que quer ficar na primeira fila, flashes de máquinas fotográficas. Quem é que vai conseguir proibir o pai tirar a foto da filha com perucas vitorianas. Os atores que faziam o papel de enfermeiros recepcionavam o público e indicavam onde deveriam sentar-se, então logo surgia o tchauzinho do parente ao ator, que obvio fica sem devolutiva.
Passado todo esse frenesi do inicio, depois de uns dez minutos de peça, um casal chega atrasado. O pessoal da bilheteria autoriza a entrada deles, sem saber que a disposição do palco “invadia” a platéia.  A partir daí iniciaram-se os 5 minutos mais longos da vida desse casal e da minha na cabine de luz.
O casal ficou “preso” exatamente atrás da poltrona do Coulmier (diretor da instituição personagem que representa a burguesia francesa no período napoleônico). Não sei se as pessoas perceberam de imediato o que estava acontecendo: o casal tentando sair da coxia / palco para ir à platéia. Eles não tinha como sair de lá, porque senão entravam de vez em cena. Também não conseguiam voltar para a rua porque a porta do teatro já estava fechada.
Comecei a gesticular no intuito de chamar a atenção de algum ator, acho que eu transpirava tanto quanto o casal, em vão. Até que o assistente de direção, que nesse espetáculo estava atuando, resgatou os dois. Porém a única forma de eles saírem de lá foi de fato passando pelo meio do palco. Atravessaram o palco até a platéia, roubando a cena do Marques de Sade.
Creio que tenha sido um alivio para o casal sair daquela situação constrangedora. Por menores que eram os seus movimentos na tentativa de não atrapalhar, a própria respiração dos coitados já roubava a cena.
Eles perderam algumas informações importantes para compreender melhor a peça, mas acredito que esse espetáculo tenha sido marcante. Pelo orgulho de ver o familiar no palco e pela vergonha que sentiram. Nada grave, mas acredito que na próxima peça que eles forem assistir vão sair de casa com muito mais antecedência. 






segunda-feira, 15 de novembro de 2010

A função do crítico teatral

Artistas não compreendidos! Acreditem! O crítico de teatro tem várias e importantes funções. A crítica é necessária para auxiliar o espectador distinguir, analisar e compreender os diferentes estilos estéticos. O fato de os artistas de teatro utilizarem muita criatividade para conduzir o espectador a novas possibilidades e sensações faz com que, em alguns casos, essa tentativa de comunicação não aconteça com êxito; então cabe ao crítico decodificar os elementos colocados no palco. O crítico deve assistir o espetáculo e transcrevê-lo de forma sucinta e compreensiva para o público em geral. 
Outra função do crítico é atualizar uma tradição, mesmo contrariando algumas de suas preferências, e divulgar novas possibilidades de leitura. O significado de uma obra pode ser visto por um ângulo diferente de acordo com cada momento da história. É o crítico quem aponta como se constituiu essa nova perspectiva e o que ela realmente pode acrescentar de novo.
            Além disso, o crítico dialoga com o artista a fim de fazê-lo refletir sobre o seu trabalho. Geralmente, o que o artista tem de devolutiva são: o aplauso, o riso, a vaia e os elogios dos amigos (comentários esses muitas vezes superficiais). O artista tem pouca oportunidade de refletir mais profundamente sobre o seu espetáculo. Dessa forma, o crítico é alguém especializado que contribui para a sua evolução.
As relações entre crítica e artistas sempre foram tensas ao longo da história do teatro. Há trocas de acusações de ambos os lados e é difícil conseguir estabelecer quem de fato está com a razão, se é que esta realmente existe. Porém o crítico com comentário consistente, com uma reflexão respaldada pelo conhecimento e pela pesquisa pode oferecer ao artista uma contribuição significativa para o desenvolvimento do seu trabalho. O crítico precisa ter em mente de que ele não é um “sábio”, e sim apenas o responsável por um ponto de vista.


Segue sugestões de leitura a respeito do assunto: